terça-feira, 19 de abril de 2016

Cinco equívocos sobre a Cultura Indígena Brasileira

Exposição do saguão do CEEBJA - Fotografia Edino Spada

PRIMEIRO EQUÍVOCO: O ÍNDIO GENÉRICO

A maioria das pessoas imagina que os índios têm uma única cultura, que compartilham das mesmas crenças e língua. Esse pensamento não é verdadeiro. Se fosse, os índios TUKANO, DESANA, MUNDURUKU, WAIMIRI-ATROARI deixariam de ser eles mesmos para se transformarem no “índio genérico”. Cada povo tem língua, religião, arte e ciência próprias.

Hoje, vivem no Brasil mais de 200 etnias, que falam mais de 180 línguas, com grau de comunicação variável. A diferença que pode existir, por exemplo, entre a língua macuxi e a ingaricó (ambas do tronco linguístico karib) é comparável às diferenças entre o português e o espanhol. Mas quando as línguas são de troncos diferentes, a comunicação fica bem mais difícil. Como se conversassem um alemão e um brasileiro.



Exposição do saguão do CEEBJA
Fotografia: Edino Spada

SEGUNDO EQUÍVOCO: CULTURAS ATRASADAS

Quem considera as culturas indígenas como atrasadas e primitivas esquece que os índios produziram saberes, literatura, poesia, religião etc. As línguas indígenas foram consideradas pelos colonizadores como inferiores. Ora, todo linguista afirma que qualquer língua é capaz de transmitir qualquer ideia e sentimento. Isso significa dizer que não existe língua melhor que a outra. O que existe é a confusão entre a língua e o seu falante, que nas estruturas sociais podem ocupar posições mais ou menos privilegiadas.

As religiões eram consideradas apenas conjuntos de superstições. Basta entrar em contato com a cultura indígena para saber que esta opinião é preconceituosa e etnocêntrica, ou seja, que leva em consideração e se baseia apenas na cultura e nos valores de quem está observando os ritos religiosos. Os índios Guarani Mbyá, que têm aldeias em Angra dos Reis e Paraty, são considerados os “teólogos da floresta”. A religião é um dos traços mais marcantes dessa tribo.

As ciências indígenas também já foram tratadas de maneira preconceituosa. Os conhecimentos dos índios já foram desprezados como se fossem a negação da ciência e da objetividade. O antropólogo Darrel Posey explicou que existem índios especializados em solos, plantas, remédios, rituais etc.

A literatura também foi menosprezada. Os diferentes povos produziram uma literatura sofisticada, que foi menosprezada porque as línguas eram ágrafas, ou seja, sem escrita. Ela foi passada de geração a geração através da tradição oral. Mas, a partir do século passado, vários estudiosos recolheram no Pará e no Amazonas literatura oral de qualidade. Um deles foi o General Couto de Magalhães. Curioso, ele aprendeu a língua nheengatu só para conhecer as histórias dos índios. Por isso, certa vez ele comentou: “um povo que ensina que a inteligência vence a força é um povo altamente civilizado, é um povo altamente sofisticado”.



TERCEIRO EQUÍVOCO: CULTURAS CONGELADAS

A maioria dos brasileiros criou a imagem de como deveria ser o índio: nu ou de tanga, no meio da floresta, de arco e flecha. Aquele que foi descrito por Pero Vaz de Caminha. Essa imagem foi congelada até os dias de hoje. Quando o índio não se enquadra nessa imagem a reação das pessoas é dizer: “ah, ele não é mais índio!”.

Com isso cria-se uma nova categoria, a dos ex-índios. Aquele que usa calça jeans e fala português. Mas a calça jeans, tão usada no Brasil, não foi inventada por um brasileiro! Assim como a tecnologia do telefone e do computador também não. E nem por isso a sociedade consumidora desses produtos deixa de ser brasileira.

Se o índio fizer o mesmo, ele deixa de ser índio? Por quê? Isso mostra que não concedemos à cultura indígena aquilo que queremos para a nossa: entrar em contato com outras culturas e, consequentemente, mudar.


QUARTO EQUÍVOCO: ÍNDIOS FAZEM PARTE DO PASSADO

Existe um texto sobre a biodiversidade, escrito em 1997, do ponto de vista de um índio, que Jorge Terena escreveu: sobre as consequências graves do colonialismo. O grande problema está em taxar a cultura indígena de primitiva.

“Eles veem a tradição viva como primitiva porque não segue o paradigma ocidental. Tudo aquilo que não é do âmbito do ocidente é considerado do passado, desenvolvendo uma noção equivocada em relação aos povos tradicionais, sobre o seu espaço na história.”

Os índios estão encravados no nosso passado, mas podem interagir bem com o Brasil moderno. O país sem a riqueza da cultura indígena ficaria pobre, feio, muito feio.



QUINTO EQUÍVOCO: O BRASILEIRO NÃO É ÍNDIO

Outro grande erro do brasileiro é não considerar a existência do índio na formação da sua identidade. O povo brasileiro foi formado nos últimos cinco séculos com a contribuição das matrizes:

1 - Europeias: representadas pelos portugueses, espanhóis, franceses, italianos, alemães, poloneses etc.
2 - Africanas: representadas pelos sudaneses, yorubás, nagôs, gegês, ewes, haussá, bantos etc.
3 - Indígenas: representadas pelas famílias linguísticas como o tupi, o karib, o aruak, o jê etc.

A tendência do brasileiro é se identificar com o vencedor, ou seja, a matriz europeia. E deixar de lado as influências africanas e indígenas. O índio permanece vivo em cada um de nós, mesmo que não saibamos disso. É uma questão cultural. Quando aquele descendente de alemão lá de Santa Catarina, louro, de olhos azuis, começa a rir, do que ele vai rir? Do que vai sentir medo? Com quem ele sonha? Ao fazer suas opções de culinária, música, dança e poesia, quais são os seus critérios de seleção? É aí que afloram as heranças culturais, incluindo a indígena e a negra.



REFERÊNCIAS

ALVES, Roberta Hernandes; MARTIN, Vima Lia. Projeto Eco - Língua Portuguesa. Ensino Médio. Curitiba: Positivo, 2010.
BELTRÃO, Eliana Lúcia Santos; GORDILHO, Tereza Cristina S.. Diálogo: Língua Portuguesa, 9° ano. São Paulo: FTD, 2009.
Disponível em: http://www.conexaoaluno.rj.gov.br/especiais-19f.asp

PARA REFLETIR!!!!




LAERTE. Hugo. Disponível em: http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/index-hugo.html


Colaboração da Equipe pedagógica do CEEBJA


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Leia também!

Lenda da mandioca

Existem várias lendas que explicam a origem da mandioca, porém a mais conhecida é sobre Mani.

Exposição no Saguão do CEEBJA 
Fotografia: Edino Spada

Mani era uma linda indiazinha, neta de um grande cacique de uma tribo antiga. Desde que nasceu andava e falava. De repente morreu sem ficar doente e sem sofrer. A indiazinha foi enterrada dentro da própria oca onde sempre morou e como era a tradição do seu povo. 





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